segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Preservação Ambiental: A Nova Ordem dos Cultos Afro-Brasileiros.

Atualmente o uso predatório do meio ambiente é motivo de discussão nos mais variados seguimentos da sociedade, dentre estes grupos um deles se destaca por provocar, ao mesmo tempo, a ira e a admiração dos ambientalistas – os cultos de matrizes africanas.
Durante séculos as religiões afro-brasileiras sofreram perseguições, subsistindo a exclusão étnica e social e o rótulo de religião de “negros e pobres”. A preservação destas crenças só ocorreram devido aos esforços dos baluartes negros, como Mãe Menininha do Gantois, que lutaram sem medir esforços pela liberdade de praticar a fé e as tradições de seus ancestrais africanos.
Com liberdade religiosa garantida pela Constituição, a preocupação das lideranças do culto é outra: utilizar o meio ambiente de forma a preservá-lo em sua integridade. O Candomblé e a Umbanda são cultos às energias da natureza representadas pelos Orixás: Oxum, a deusa das águas doces, Xangô o deus do fogo, Oxóssi, o dono das matas. Não há nada mais sagrado que a Natureza para os seguidores dos cultos afro.
Em detrimento a esse princípio básico da religião, estão os sacerdotes mal informados. Quem nunca foi à Serra do Japi e encontrou detritos de oferendas deixadas nas matas e nas cachoeiras? Os impactos ambientais são muitos. Lixo, fogo provocado pelas velas, poluição hídrica e visual e mau cheiro são apenas alguns exemplos do que pode ser visto no nosso paraíso natural.
A preocupação das lideranças conscientes da importância de uma boa visibilidade do culto e a solução encontrada para diminuir este impacto é a Educação Ambiental dos praticantes: qualquer coisa que interfira no ambiente deve ser considerada uma ofensa a natureza. Velas e louças deixadas na cachoeira já não são vistas com bons olhos pelos deuses e ONGs ligadas a causa já promovem mutirões para a limpeza destas áreas.
Um velho ditado do povo-do-santo diz: “Sem folha e sem água não há Orixá”, então como os praticantes podem danificar a fonte primordial de suas crenças? Para discutir este tema e propor alternativas para o direito do uso dos recursos ambientais pelas manifestações religiosas de maneira consciente e produzindo o mínimo de impacto, ambientalistas e líderes religiosos se reunirão no 14º Congresso Estadual de Reconhecimento das Tradições Afro-brasileiras, realizado pela Federação Interestadual União das Tradições e Cultura Afro-brasileiras (FIUTCAB), uma ONG sem fins lucrativos que promove ações afirmativas na luta contra a intolerância religiosa e conservação dos espaços naturais pelas religiões de matrizes africanas.
O objetivo é mostrar a sociedade e aos seguidores que é possível harmonizar as práticas religiosas com o respeito à natureza, para tanto a Educação Ambiental vem como solução natural para esses conflitos.
A utilização de materiais biodegradáveis e a limpeza do local após os rituais são algumas das soluções simples que deverão ser adotadas pelos adeptos conscientes. Não podemos deixar de destacar que não sendo o culto fundamentalista e sim tradicionalista, para tudo há sempre outras opções.
Portanto, aqueles que praticam a religião devem ter uma relação de respeito com a Natureza, comprovando o princípio ecológico da interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente.

Rafael Vertuan é jornalista,
pesquisador da cultura afro-brasileira
e Diretor de Comunicação da FIUTCAB
Fotos do 14 CERTAB (by Yá Ogun Ladê)

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