sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Orgulho da Alma Negra - 500 anos de luta contra a opressão e preconceito.

Os navios negreiros que aportaram em nosso país não trariam somente os negros cativos para o trabalho escravo. Trouxeram, além de sua força braçal que promoveu a riqueza do Brasil, sua cultura, seus hábitos e crenças. Hoje, apesar de muitos não saberem, somos influenciados em vários aspectos pelo imenso e rico leque cultural que os africanos nos deixaram como legado.
Todos sabemos que o negro sofreu, foi humilhado, obrigado a abandonar suas crenças e identidade. Já foi até dito que os negros não tinham “alma”, mais ao contrário do passado, e através da luta e resistência dos negros, o Brasil se tornou um país de ALMA NEGRA.
Também sabemos que ainda existe o preconceito de forma velada (ou até mesmo escancarada) e quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais, sociais e religiosas. A luta eterna dos grupos organizados conta o preconceito, o racismo e a intolerância que ainda tem que levantar sua bandeira e mostrar para a sociedade a seriedade do problema, resultou em algumas conquistas como a criação do dia Consciência Negra, comemorado no dia 20 de Novembro, data em que o líder quilombola Zumbi dos Palmares foi morto. A criação desta data foi importante para propor um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da contribuição dos africanos para a formação de nossa cultura.
Infelizmente ainda precisamos de uma “data especial” para nos lembrar, mesmo usando durante o cotidiano instrumentos africanos em nosso trabalho e palavras em dialetos africanos quando conversamos com nossos vizinhos. Dançando embalados pelo ritmo da Mãe África no samba ou no Hip Hop, a expressão de luta da juventude negra, sem esquecer do tempero baiano em nossas cozinhas e os quitutes e sabores incorporados em nossa singular culinária.
Outra vitória é o direito de liberdade das religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e a Umbanda, um dos grupos de afro-descendentes que mais sofrem com a discriminação e intolerância religiosa. Estes cultos já foram proibidos por lei e constantemente seus adeptos eram presos ou tinham de passar por exames de sanidade mental para poderem praticar sua fé. Em nossa região, ONGs como a Confederação Nacional União das Tradições e Cultura Afro Brasileiras (FIUTCAB) promove há mais de uma década ações afirmativas contra a discriminação religiosa dos cultos negros.
A Consciência Negra é algo que devemos ter o ano todo, Conhecer e valorizar nossa cultura presente na CAPOEIRA, no MARACATÚ, nas CONGADAS. Outro grande passo foi dado quando no início de seu mandato, o Presidente Lula incluiu obrigatoriamente nas disciplinas escolares o ensino da história da África e da Cultura Afro-brasileira em escolas publicas e particulares, mas infelizmente isso ainda não ocorre na maioria das escolas onde apenas encontramos nos livros de história o negro aparecendo somente ao falar na abolição da escravatura e no apartheid. Em nossa região temos o Grupo ZAMA, que zela pela preservação cultural da herança africana e o Clube 28 de Setembro, que promove atividades relacionadas à questão negra apoiado pelo Grupo de Capoeira Rio Vermelho.
A preservação da identidade negra é de extrema importância para a construção de um país coeso e harmonioso, livre de preconceitos. Pode até parecer utópico, mais aonde houverem pessoas com o ORGULHO de serem negras, ainda existirá a esperança de uma sociedade igualitária e fraternal. Viva a Mãe África! Axé!

Rafael Vertuan é Jornalista,
pesquisador da Cultura Afro-brasileira
e membro da FIUTCAB.


foto - Copyright © Fundação Pierre Verger