sábado, 28 de novembro de 2009

Religiões de Matrizes Africanas: O desconhecimento que causa o preconceito.


Tida como uma das principais causas da desagregação social e das guerras do mundo, a intolerância religiosa é tão antiga quanto a história das religiões: mais de seis milhões de judeus já foram mortos devido as suas crenças, os primeiros cristão eram perseguidos e mortos, isto sem contar as inúmeras perseguições as minorias religiosas: seguidores de religiões tribais, protestantes,ciganos, budistas, espíritas e tantos outros.
No entanto este não é um problema isolado, é parte de um mal maior, a intolerância etnorracial , ou seja, a idéia de superioridade, seja de etnia, raça, cor, gênero ou religião, manifestadas na forma de racismo, machismo, homofobia, xenofobia e vários outras formas de discriminação.
Nosso país, reconhecido por sua pluralidade étnica e religiosa, já passou por inúmeros episódios de intolerância religiosa que tomaram grande atenção da mídia, como o caso do pastor evangélico que chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida em rede nacional de televisão, sendo, logo depois, julgado e condenado por praticar e induzir a discriminação religiosa.
Apesar de alguns casos terem repercussão e conhecimento de toda sociedade, a grande maioria dos casos de intolerância religiosa ainda passa despercebida de parte da população e acontece nas escolas, nas ruas, no nosso cotidiano.
Atualmente as religiões de Matrizes Africanas – candomblé, umbanda, tambor, batuque, etc. – são as mais vulneráveis ao preconceito que é aplicado por uma parcela da população que desconhece e desrespeita as outras religiões, ditas “diferentes” das suas crenças. Não é incomum vermos na televisão igrejas ofendendo a fé de outros e destinando todo o mal que ocorre na humanidade às ações de espíritos “imundos” como Exu e Pombagira – duas entidades cultuadas em religiões afro-brasileiras associadas erroneamente desde o tempo colonial ao diabo cristão.
Vale lembrar que as manifestações de intolerância contra as religiões de matriz africanas em particular, exibem altas doses de ódio e violência, física e simbólica, o que potencializa o sofrimento dos que insistem em exercitar seu direito humano e constitucional à liberdade de culto e crença.
Os cultos afro-brasileiros tomaram força a partir de 1970 quando deixaram de serem perseguidos e repreendidos pelo Estado e começaram a ganhar espaços institucionais, apesar de ainda serem perseguidas por fundamentalistas religiosos. Outra grande vitória foi a promulgação da Lei 7.716/89 (Lei Caó) que criminaliza a discriminação religiosa.
Ainda com alguns benefícios constituídos, os seguidores ainda sofrem com o preconceito e a intolerância. E para discutir políticas afirmativas e assegurar que a lei seja cumprida, organizações não-governamentais como a FIUTCAB (Confederação Nacional de Integração e União das Tradições e Cultura Afro Brasileira) promovem no mês da Consciência Negra, congressos estaduais para levar ao conhecimento da população e das autoridades as dificuldades que enfrentam os adeptos dos cultos afro brasileiros e, sobretudo, para apresentar suas tradições e culturas para o grande público, propondo o conhecimento como uma forma de combate ao preconceito.

Rafael Vertuan é Jornalista, Pesquisador
das Tradições Afro-brasileiras e
membro da FIUTCAB


Imagens do 15 CERTAB, realizado na Semana da Consciência Negra de Várzea Paulista 2009